
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, aliado próximo de Donald Trump, gerou polêmica ao compartilhar em suas redes um vídeo no qual pastores defendem que mulheres não devem ter direito ao voto. O material, reproduzido de uma reportagem da CNN americana, destaca o teólogo conservador Doug Wilson, conhecido por posições abertamente contrárias à igualdade de gênero e por declarações polêmicas sobre escravidão e liderança feminina.
No vídeo, o pastor Toby Sumpter afirma que o “ideal” seria o voto em família, liderado pelo homem provedor. Uma mulher entrevistada endossa a visão, dizendo ser submissa ao marido e apoiando que ele vote pela família. Wilson, por sua vez, reafirma não aceitar mulheres em cargos de liderança na igreja ou nas Forças Armadas, justificando-se com interpretação literal da Bíblia.
A repercussão é imediata: organizações evangélicas progressistas classificam o conteúdo como “perturbador” e criticam o fato de um alto funcionário do governo americano amplificar discursos antidemocráticos. Hegseth, no entanto, não recua. Um porta-voz do Pentágono afirmou que ele é “orgulhoso membro” de uma igreja ligada ao movimento e que “aprecia muito” os escritos de Wilson.
O episódio ocorre em meio ao fortalecimento do chamado “nacionalismo cristão” no governo Trump, que já criou um “gabinete da fé” para investigar suposto “preconceito anticristão” em órgãos federais e abriu espaço para cultos cristãos dentro do Pentágono, conduzidos pelo pastor pessoal de Hegseth.
Para o campo do centro democrático no Brasil, o caso serve como alerta. O avanço de agendas extremistas sejam elas à direita ou à esquerda mina pilares democráticos e direitos fundamentais. O governo Lula, embora se apresente como contraponto ao trumpismo, tem reagido de forma tímida a esse tipo de ameaça global, limitando-se a gestos diplomáticos protocolares e evitando um posicionamento mais firme em defesa dos direitos das mulheres e da igualdade.
O silêncio ou a complacência diante de ideias tão retrógradas fortalece narrativas autoritárias e deixa um vácuo para que discursos radicais se espalhem. Num cenário internacional cada vez mais polarizado, a defesa da democracia exige mais do que oposição a um líder estrangeiro: exige coerência, firmeza e compromisso real com os valores que garantem liberdade e igualdade para todos.