
A rebelião de deputados bolsonaristas na semana passada com ocupação do plenário para pressionar pela anistia a acusados de golpismo bagunçou a pauta da Câmara e obrigou líderes partidários a reorganizar prioridades. A tentativa de emplacar projetos de interesse do grupo, como o fim do foro privilegiado e a blindagem de parlamentares, perdeu força diante da repercussão nacional do vídeo do influenciador Felca, que denunciou a sexualização de crianças nas redes sociais.
Nesta terça-feira (12), o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), conduziu reunião de líderes que deixou de fora da pauta tanto o fim do foro privilegiado quanto a discussão sobre isenção do Imposto de Renda prioridade do governo Lula. No lugar, definiu-se que, no próximo dia 20, haverá uma comissão geral para tratar exclusivamente da exploração infantil na internet. A proposta é ouvir especialistas e acelerar a análise de cerca de 60 projetos já apresentados sobre o tema, entre eles o PL 2.628/2022, do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), já aprovado no Senado.
Partidos de diferentes matizes ideológicos do PT ao MDB fecharam questão contra o avanço imediato da pauta de blindagem parlamentar, reforçando que a prioridade deve ser a proteção de crianças e adolescentes. O próprio líder petista, Lindbergh Farias (RJ), comemorou o fato de a “pauta da chantagem” não ter avançado.
A movimentação reflete um impasse que vai além do embate entre governo e oposição: a dificuldade de conduzir uma agenda legislativa responsável diante de pressões extremistas. Enquanto isso, a apuração sobre a conduta dos deputados que participaram do motim seguirá o rito ordinário, com prazo de defesa e análise pelo Conselho de Ética um processo que, historicamente, se arrasta por meses.
No centro da disputa, ficou evidente que temas urgentes para a sociedade, como a proteção de menores no ambiente digital, só avançam quando a pressão popular e a repercussão midiática rompem a barreira da polarização. Até lá, o Congresso segue refém de crises fabricadas e da velha lógica de obstrução política.