Com base no Bolsa Família, estados e municípios criam milhares de programas sociais próprios

Mais de 2 mil iniciativas usam o CadÚnico como critério de elegibilidade, mas falta de integração nacional preocupa especialistas

Com base no Bolsa Família, estados e municípios criam milhares de programas sociais próprios
Imagem da internet

O impacto do Bolsa Família na redução da pobreza no Brasil abriu caminho para que governos estaduais e prefeituras desenvolvessem suas próprias políticas de transferência de renda. Hoje, essas iniciativas locais se espalham pelo país, totalizando mais de dois mil programas sociais que utilizam o Cadastro Único como base operacional.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), embora os programas federais como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) ainda sejam os mais relevantes em escala, ações complementares estaduais e municipais têm crescido de forma acelerada. Só entre 2022 e 2024, a renda distribuída por programas locais sem contar os federais aumentou 53,7%.

Atualmente, 19 estados já implementaram políticas semelhantes ao Bolsa Família. A maioria delas opera com repasses menores, como forma de complementar a renda das famílias que já são atendidas pelo governo federal. Mas, apesar da boa intenção, a ausência de uma estrutura de coordenação entre as esferas da federação levanta preocupações quanto à eficiência, à sobreposição de benefícios e à sustentabilidade fiscal dessas ações.

Especialistas destacam que prefeituras e governos estaduais têm vantagens estratégicas: conhecem melhor a realidade local e conseguem desenhar soluções mais ajustadas às necessidades regionais. No entanto, alertam que muitos desses programas são criados sem clareza de objetivos, sem fontes estáveis de financiamento e sem mecanismos de avaliação de resultados.

Para enfrentar essa lacuna, o MDS trabalha no desenvolvimento de um sistema nacional de monitoramento de programas locais que utilizam o CadÚnico. A expectativa é que a plataforma esteja concluída até o fim de 2026, permitindo uma visão integrada das ações sociais em todo o território nacional.

A experiência consolidada do Bolsa Família pode servir de modelo para que políticas locais evoluam e fortaleçam a rede de proteção social no Brasil. Mas para que isso aconteça, será preciso mais do que a boa vontade dos gestores: será necessário planejamento, articulação entre entes federativos e um pacto de responsabilidade fiscal que garanta a continuidade do apoio às famílias em situação de vulnerabilidade.

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