Governo japonês sofre derrota histórica e extrema-direita cresce no Senado

Com inflação alta, crise política e desgaste internacional, partido de Ishiba perde maioria e vê Sanseito ganhar espaço

Governo japonês sofre derrota histórica e extrema-direita cresce no Senado
Imagem da internet

O cenário político do Japão passou por um abalo significativo neste domingo (20). A coalizão governista liderada pelo primeiro-ministro Shigeru Ishiba perdeu a maioria absoluta na Câmara Alta do Parlamento, em uma eleição marcada pela insatisfação popular com a economia e pelo avanço da extrema-direita. Segundo a emissora NHK, o Partido Liberal Democrático (PLD) e seu aliado Komeito conquistaram apenas 41 das 125 cadeiras em disputa muito abaixo das 50 necessárias para manter o controle da casa.

Sem apoio sólido na Câmara Baixa e agora também sem maioria no Senado, Ishiba entra em uma zona de instabilidade política sem precedentes desde o pós-guerra. A derrota, apontam analistas, pode colocar em xeque a permanência do premiê no cargo.

Entre os fatores que contribuíram para o revés estão a inflação persistente que chegou a 3,3% em junho, excluindo produtos frescos e o aumento do custo de vida, sobretudo no preço do arroz, que dobrou em um ano. Muitos eleitores relataram perda do poder de compra, estagnação salarial e insegurança previdenciária. “Pagamos muito para sustentar o sistema. Este é o problema mais urgente”, disse Hisayo Kojima, 65, após votar em Tóquio.

Outro fator que desgasta o governo Ishiba é o impasse com os Estados Unidos, liderados por Donald Trump, que ameaça aplicar tarifas de 25% sobre produtos japoneses, aumentando a pressão sobre a economia do país.

Nesse contexto, o partido de extrema-direita Sanseito ampliou sua presença política e tornou-se um dos grandes protagonistas da eleição. Com discurso nacionalista, anti-imigração e altamente ativo nas redes sociais, a legenda populista saiu de duas cadeiras para uma projeção entre 10 e 22. Seu slogan, “Japão Primeiro”, tem ganhado eco entre jovens conservadores e eleitores desiludidos com o PLD.

Segundo a pesquisadora Valérie Niquet, o Sanseito ocupa o vácuo deixado pela morte de Shinzo Abe e está absorvendo a ala mais nacionalista do eleitorado. A legenda defende regras mais rígidas para imigração, se opõe a pautas de gênero, questiona políticas de vacinação e descarbonização, e rejeita vínculos com a Rússia apesar das críticas recebidas por suas posições ambíguas.

Com a perda da maioria nas duas casas e a crescente fragmentação política, o governo japonês entra em uma nova fase de incerteza institucional, e o avanço da extrema-direita acende um alerta sobre os rumos do país.

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