Perfuração na Foz do Amazonas põe Lula sob fogo cruzado

Às vésperas da COP30, decisão do governo de liberar exploração de petróleo gera críticas de cientistas e ambientalistas; ONG promete acionar a Justiça

Perfuração na Foz do Amazonas põe Lula sob fogo cruzado

A decisão do governo federal de autorizar a Petrobras a iniciar imediatamente a perfuração de um poço de petróleo na Foz do Amazonas gerou uma onda de críticas de ambientalistas, cientistas e entidades da sociedade civil. Segundo reportagem do UOL, especialistas afirmam que a medida coloca em xeque o discurso ambiental do presidente Lula (PT), especialmente às vésperas da COP30, conferência climática que será sediada no Pará no mês que vem.

A licença, concedida pelo Ibama, libera a exploração do Bloco 59, localizado a 500 km da costa, em uma região considerada ambientalmente sensível — conhecida como Margem Equatorial. A área abriga o maior sistema de recifes do Brasil e o maior complexo de mangues do mundo. Especialistas alertam que um possível vazamento de petróleo poderia causar danos irreversíveis ao ecossistema local.

Para Suely Araújo, ex-presidente do Ibama e atual coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, a decisão “enterra” a imagem de Lula como liderança ambiental global. “O governo está contrariando a ciência e apostando no aumento do aquecimento global”, declarou. A ONG já anunciou que entrará com ação na Justiça para tentar barrar a medida.

O climatologista Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia, afirmou que a escolha de continuar investindo em petróleo pode acelerar a savanização da floresta. Segundo ele, a Amazônia está próxima de um ponto de não retorno, que pode ser atingido se o planeta alcançar 2°C de aquecimento global e o desmatamento ultrapassar 20%. “É urgente reduzir todas as emissões de combustíveis fósseis”, defendeu.

Outros cientistas, como Paulo Artaxo, integrante do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), criticam o investimento em combustíveis fósseis em detrimento de fontes renováveis. “O Brasil tem potencial para ser potência em energia solar e eólica, mas insiste em abrir novas frentes de petróleo”, afirmou.

Clara Junger, da iniciativa do Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis, destacou que apenas 0,06% dos recursos do petróleo têm sido investidos na transição energética no Brasil, contrariando o discurso oficial.

Em resposta às críticas, a Petrobras afirmou que a operação será conduzida com “segurança, responsabilidade e qualidade técnica”. A presidente da estatal, Magda Chambriard, garantiu que toda a estrutura ambiental necessária foi preparada durante os quase cinco anos de análise para obtenção da licença.

O Ministério de Minas e Energia também defendeu a medida. Segundo o ministro Alexandre Silveira, o Brasil precisa garantir sua segurança energética e conhecer seu potencial de exploração. Ele ressaltou que o petróleo brasileiro tem uma das menores pegadas de carbono do mundo, e que a matriz energética do país continua sendo majoritariamente renovável.

O plano da Petrobras para o período de 2025 a 2029 prevê investimentos de US$ 3 bilhões na Margem Equatorial, incluindo o poço liberado pelo Ibama. A perfuração, que deve durar cinco meses, busca identificar se há volume suficiente de petróleo e gás para justificar a exploração comercial.

A polêmica promete repercutir fortemente durante a COP30, evento em que o Brasil pretendia se posicionar como referência global em sustentabilidade e preservação ambiental.