
Levantamento do Dieese alerta para impactos do aumento de tarifas dos EUA sobre exportações brasileiras, enquanto governo federal ainda busca respostas
O aumento de tarifas imposto pelo governo dos Estados Unidos às exportações brasileiras, no contexto das tensões diplomáticas recentes, pode gerar efeitos significativos na economia do país, segundo estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgado nesta quarta-feira (13).
De acordo com o levantamento, o chamado “tarifaço” pode impactar 726,7 mil empregos, reduzir a arrecadação do INSS em R$ 3,31 bilhões e comprometer o pagamento do FGTS, além de provocar queda de R$ 11,01 bilhões na arrecadação de impostos e R$ 14,33 bilhões na massa salarial. O impacto total equivale a aproximadamente 0,37% do PIB brasileiro.
O estudo envolve análise detalhada de cerca de 3.000 das 10 mil empresas exportadoras do Brasil para os Estados Unidos, abrangendo diferentes setores produtivos, como indústria, agropecuária, comércio e serviços. Segundo a diretora técnica do Dieese, Adriana Marcolino, os efeitos devem ser sentidos em toda a cadeia produtiva, não apenas nas empresas diretamente afetadas:
“É uma descentralização grande que exige organização e acompanhamento constante para proteger empregos e a renda das famílias brasileiras”, afirmou Marcolino.
Preocupação com a estabilidade e a massa salarial
A pesquisa evidencia riscos especialmente para trabalhadores em setores com maior informalidade, como agricultura de frutas, safristas e contratos precarizados. As negociações salariais, que se concentram entre setembro e novembro, serão decisivas para evitar perdas adicionais.
Em vídeo direcionado aos sindicatos, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, destacou que o Brasil está mais preparado do que em 2003, com diversificação de mercados e menor dependência das exportações para os EUA, que passaram de 25% para 12% do total:
“Não diminuímos as exportações, mas abrimos 397 novos mercados nos últimos dois anos”, afirmou.
Ainda assim, para especialistas do centro democrático, os dados reforçam a necessidade de gestão econômica responsável e planejamento estratégico por parte do governo federal, que, segundo analistas, tem reagido de forma insuficiente a choques externos e riscos à estabilidade do emprego e da renda.
Entre as medidas discutidas para mitigar o impacto estão a realocação da produção para o mercado interno, principalmente em setores alimentícios, e a utilização de instrumentos previstos na CLT, como lay-off, para preservar empregos.
Segundo líderes sindicais, como Sergio Nobre (CUT) e Ricardo Patah (UGT), o cenário exige união entre empresas, trabalhadores e órgãos públicos, com negociações rápidas e estruturadas para proteger a economia e evitar perdas irreversíveis.
“O Brasil não é um país qualquer. Precisamos tratar este momento com estratégia e responsabilidade, sem improvisos”, afirmou Nobre.
O estudo reforça a necessidade de ações coordenadas e políticas de planejamento sério, apontando que decisões estratégicas e reformas estruturais podem reduzir vulnerabilidades diante de crises externas e proteger empregos e renda de milhões de brasileiros.