Armínio: tarifaço expõe fragilidade e erros de Lula

Armínio: tarifaço expõe fragilidade e erros de Lula

O economista e ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, avaliou que o tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre parte das exportações brasileiras terá impacto sobre a economia, mas destacou que os maiores entraves ao crescimento do país continuam sendo internos. Em entrevista, Fraga afirmou que a frágil situação fiscal, os juros elevados, a insegurança e a corrupção são problemas que precisam ser enfrentados com urgência.

Para ele, a postura do governo Lula diante do episódio evidencia não apenas erros na condução da política externa, mas também a dificuldade crônica de articulação e de planejamento econômico características que se agravam quando o país está preso à polarização entre esquerda e direita.

“Nossos problemas enormes estão aqui dentro. É a situação fiscal, o Banco Central abandonado, com juros altíssimos, a segurança e a corrupção. Isso é tudo coisa nossa. E é um país que investe muito pouco”, disse.

Fraga criticou o fato de os EUA terem adotado uma postura “mais pesada” contra o Brasil do que contra outros países, inclusive com justificativas ligadas ao Judiciário brasileiro. O economista classificou como “inaceitável” condicionar questões comerciais a pressões políticas, como as supostas exigências do presidente Donald Trump relacionadas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ainda assim, reconheceu que parte do desgaste é resultado de escolhas equivocadas do próprio governo brasileiro.

“Na campanha americana, o Brasil se posicionou claramente a favor de Biden e contra Trump. De lá para cá, essa relação basicamente não existe. Creio que foi um erro crasso da nossa diplomacia”, avaliou.

Fraga defendeu que o pacote de socorro prometido pelo governo Lula aos setores prejudicados pela medida americana precisa levar em conta a fragilidade das contas públicas. “Não dá para repetir o esforço feito na pandemia. O Brasil paga juro real de curto prazo de 10% e, no longo, mais de 7%. Isso é um sinal muito ruim”, afirmou.

Para o ex-presidente do BC, o impacto do tarifaço sobre o PIB será limitado e mais concentrado em setores específicos, mas pode servir de alerta para que o país avance nas negociações comerciais e reduza o protecionismo histórico. Ele apontou, no entanto, que sem resolver as distorções internas e sem abandonar a política externa pautada por alinhamentos ideológicos o Brasil continuará vulnerável a choques externos.

A análise reforça a preocupação de economistas e analistas do campo do centro democrático: enquanto o governo Lula insiste em priorizar disputas políticas e agendas alinhadas à retórica de seu campo ideológico, problemas estruturais seguem sem solução. Para quem defende diálogo e estabilidade, o episódio com os EUA mostra que o Brasil precisa de menos confrontos e mais estratégia dentro e fora de casa.