
A ofensiva tarifária anunciada por Donald Trump contra o Brasil acendeu alertas em setores econômicos estratégicos, especialmente nos Estados que, ironicamente, mais apoiaram Jair Bolsonaro em 2022. Embora algumas categorias tenham sido poupadas como petróleo, suco de laranja e aviação, setores fundamentais como carne, frutas e café foram diretamente atingidos.
Sete unidades federativas São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná responderam por mais de 80% das exportações brasileiras aos EUA em 2024. Destas, seis deram maioria de votos a Bolsonaro no segundo turno da eleição. Agora, esses mesmos Estados enfrentam as consequências de uma política internacional improvisada, em meio a uma tentativa fracassada da família Bolsonaro de transformar interesses pessoais em diplomacia oficial.
Eduardo Bolsonaro, autoexilado nos EUA, celebrou as sanções impostas por Trump e classificou a medida como “resposta legítima às agressões do regime brasileiro”. Não bastasse o tom anti-institucional, a tentativa de Eduardo em vincular o tarifaço à anistia de seu pai escancara o uso político de relações bilaterais com fins puramente pessoais. O deputado licenciado tem articulado junto ao trumpismo em defesa dos condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e a fatura chegou com juros.
Lula, por sua vez, perde mais uma oportunidade de agir estrategicamente. Enquanto governadores dos Estados prejudicados se mobilizam para dialogar com autoridades americanas, o Planalto permanece em silêncio. O governo federal preferiu o palco à diplomacia, politizando o tema e deixando o campo aberto para críticas tanto à esquerda quanto à direita.
O cenário expôs as contradições da oposição bolsonarista, que se vê dividida entre a defesa ideológica do clã e os interesses econômicos de suas bases eleitorais. Governadores como Tarcísio de Freitas (SP) e Romeu Zema (MG) têm criticado o impacto do tarifaço, tentando blindar seus Estados das consequências da imprudência internacional. Já Eduardo Leite (RS) foi um dos poucos a apontar diretamente a irresponsabilidade da família Bolsonaro, além de questionar a postura de Lula frente aos EUA.
No campo digital, a esquerda venceu a guerra de narrativas com uma mensagem clara: Trump penalizou o Brasil em nome de Bolsonaro. Enquanto isso, a direita se perdeu em contradições, ora culpando Moraes, ora Lula e, em alguns casos, nenhum dos dois. A falta de coesão enfraqueceu o discurso oposicionista e reforçou a percepção de que o bolsonarismo virou um fardo até mesmo para seus aliados históricos.
Embora Lula surja momentaneamente favorecido nas pesquisas, especialistas alertam: o impacto real das tarifas poderá, em breve, atingir a indústria, o agro e os empregos. O governo pode ter vencido a batalha simbólica, mas não está isento das consequências práticas. A incompetência diplomática de um lado e o aventureirismo ideológico de outro expõem, mais uma vez, como a polarização tem custado caro ao país.
Brasil no Centro – informação clara, posição firme.